... A luz ao fundo do Túnel ...
Olho a casa da Praia, e as memórias chegam até mim como se a "luz" que vi, voltasse ao ali ao agora.
Os miúdos andam entretidos, e creio mesmo que a minha "capa" e sorriso, consegue por vezes esconder o que me vai na alma.
Volto uns valentes anos atrás e olho, olho com olhos de ver.
Idade?
Perto de 7 anos ou 8 não me recordo bem, assim como assim ao reviver estes momentos só posso confiar na minha memória, porque questinar a algum dos "meus", nem eles se devem lembrar da minha idade na altura.
Acasa está meio ao abandono, e ganha vida, enquanto pelo meio de algumas braçadas, lembro o barco do "pai", ancorado ali bem pertinho, lembro os cães de água um deles, o cão era o "poeta" e a cadela a "diana".
Ele tinha uma adoração pelos cães, em casa foi algo que sempre houve de "sobra", cães e de preferência para a caça.
Olho e vejo-me menina, sorriso rasgado, sorriso "franco", puro, criança ... menina, maria-rapaz.
Durante anos e anos foi o que sempre fui.
A casa tinha um pequeno campo de futebol, levavamos horas a jogar á bola tendo como cenário o mar, e por detrás toda a serra da Arrábida...Eu e o mar.
Certa vez lembro-me numa das muitas brincadeiras, o tipico jogo da cabra cega (penso se hoje os miúdos da geração play station sabem o que é isto de jogo da cabra cega?).
Ora a quem haveria de ter ido parar o lenço?
Claro Maria, que nas voltas e mais voltas, e ás cegas gira e gira ... Num ápice, Maria dentro de um buraco, literalmente assim. Hoje é algo que penso ser impensável, ainda que se ouçam muitas histórias com finais menos felizes, envolvendo crianças.
Caí num buraco onde por norma era deitado lixo, ou garrafas ... resultado?
Bombeiros, e Maria fora do buraco, cortes alguns, nada demais, pernas e mãos pouco mais ficou marcado, e hoje não restam quaisquer vestigios...só dentro de mim.
Acho que aquela casa sempre foi "amaldiçoada", o "pai" uma noite, foi assaltado levando com a coronha da pistola (a sua), na cabeça ficando inconsciente...levaram o que havia a levar, desta história pouco mais sei.
A ele a quem nada devo (e guardo algures na caixa de pandora, saco hoje do baú das memórias), a ele devo a vida...irónico.
Se há coisa que ele sabia fazer (além de mandar), era cozinhar, tinha uma mão cheia para a cozinha...
Certa vez fez arroz de marisco.
Fecho os olhos e tudo acontece de novo.
Por entre uma "garfada" e mais uma, sinto algo a ficar preso na garganta. Começo a não conseguir respirar, começo a sufocar, começo a ver tudo a girar á minha volta, levantam-se da mesa e "acodem-me", cada vez mais o ar começa a ser pouco muito pouco...
Aqui surge a Luz...não sei o como nem o porque, mas eu vi-a, aliás eu vi tudo o que se passou, nos minutos seguintes.
Saí de mim e vi-me a mim, desfalecida nos braços do meu irmão mais velho, olhos revirados, e um balde ao lado com sangue, e o "pai" a gritar o que se passava, para eu falar ...
Vi tudo, do alto, num dos cantos da cozinha. Vi a aflição, o desespero e eu imóvel ...
Eu vi a Luz e o "pai", também a deve ter visto.
Do nada coloca a mão dentro da minha boca, e tira uma casca de berbigão que estava presa na garganta. Puxou e o ar faz-me "reerguer", um sopro que me devolve a vida...não me lembro mais do canto, nem do pairar e ver o que se estava a passar.
Desse dia pouco mais recordo, lembro-me de estar deitada na cama, e pouco mais...
Sim quando falam em Luz ... eu tive o meu momento de Luz...eu vi tudo, tal como vejo hoje, sob outro olhar.
Ali está a casa "amaldiçoada" ... pedaços que cairam, desalinho plantado na Arrábida.
Uma pena, pelo menos caía de uma vez e ficava a praia com um outro aspecto.
E mais umas braçadas ao desafio com os miúdos...
-Tia vamos nadar até ás cordas?
E a tia vai...falta-me entender é como os miúdos "frescos" de juventude, conseguem ficar atrás da tia, que mesmo em mariposa consegue chegar primeiro ás ditas cordas ...
É vida, pura vida que se ganha com umas braçadas ...
Eu ganho.
Os miúdos andam entretidos, e creio mesmo que a minha "capa" e sorriso, consegue por vezes esconder o que me vai na alma.
Volto uns valentes anos atrás e olho, olho com olhos de ver.
Idade?
Perto de 7 anos ou 8 não me recordo bem, assim como assim ao reviver estes momentos só posso confiar na minha memória, porque questinar a algum dos "meus", nem eles se devem lembrar da minha idade na altura.
Acasa está meio ao abandono, e ganha vida, enquanto pelo meio de algumas braçadas, lembro o barco do "pai", ancorado ali bem pertinho, lembro os cães de água um deles, o cão era o "poeta" e a cadela a "diana".
Ele tinha uma adoração pelos cães, em casa foi algo que sempre houve de "sobra", cães e de preferência para a caça.
Olho e vejo-me menina, sorriso rasgado, sorriso "franco", puro, criança ... menina, maria-rapaz.
Durante anos e anos foi o que sempre fui.
A casa tinha um pequeno campo de futebol, levavamos horas a jogar á bola tendo como cenário o mar, e por detrás toda a serra da Arrábida...Eu e o mar.
Certa vez lembro-me numa das muitas brincadeiras, o tipico jogo da cabra cega (penso se hoje os miúdos da geração play station sabem o que é isto de jogo da cabra cega?).
Ora a quem haveria de ter ido parar o lenço?
Claro Maria, que nas voltas e mais voltas, e ás cegas gira e gira ... Num ápice, Maria dentro de um buraco, literalmente assim. Hoje é algo que penso ser impensável, ainda que se ouçam muitas histórias com finais menos felizes, envolvendo crianças.
Caí num buraco onde por norma era deitado lixo, ou garrafas ... resultado?
Bombeiros, e Maria fora do buraco, cortes alguns, nada demais, pernas e mãos pouco mais ficou marcado, e hoje não restam quaisquer vestigios...só dentro de mim.
Acho que aquela casa sempre foi "amaldiçoada", o "pai" uma noite, foi assaltado levando com a coronha da pistola (a sua), na cabeça ficando inconsciente...levaram o que havia a levar, desta história pouco mais sei.
A ele a quem nada devo (e guardo algures na caixa de pandora, saco hoje do baú das memórias), a ele devo a vida...irónico.
Se há coisa que ele sabia fazer (além de mandar), era cozinhar, tinha uma mão cheia para a cozinha...
Certa vez fez arroz de marisco.
Fecho os olhos e tudo acontece de novo.
Por entre uma "garfada" e mais uma, sinto algo a ficar preso na garganta. Começo a não conseguir respirar, começo a sufocar, começo a ver tudo a girar á minha volta, levantam-se da mesa e "acodem-me", cada vez mais o ar começa a ser pouco muito pouco...
Aqui surge a Luz...não sei o como nem o porque, mas eu vi-a, aliás eu vi tudo o que se passou, nos minutos seguintes.
Saí de mim e vi-me a mim, desfalecida nos braços do meu irmão mais velho, olhos revirados, e um balde ao lado com sangue, e o "pai" a gritar o que se passava, para eu falar ...
Vi tudo, do alto, num dos cantos da cozinha. Vi a aflição, o desespero e eu imóvel ...
Eu vi a Luz e o "pai", também a deve ter visto.
Do nada coloca a mão dentro da minha boca, e tira uma casca de berbigão que estava presa na garganta. Puxou e o ar faz-me "reerguer", um sopro que me devolve a vida...não me lembro mais do canto, nem do pairar e ver o que se estava a passar.
Desse dia pouco mais recordo, lembro-me de estar deitada na cama, e pouco mais...
Sim quando falam em Luz ... eu tive o meu momento de Luz...eu vi tudo, tal como vejo hoje, sob outro olhar.
Ali está a casa "amaldiçoada" ... pedaços que cairam, desalinho plantado na Arrábida.
Uma pena, pelo menos caía de uma vez e ficava a praia com um outro aspecto.
E mais umas braçadas ao desafio com os miúdos...
-Tia vamos nadar até ás cordas?
E a tia vai...falta-me entender é como os miúdos "frescos" de juventude, conseguem ficar atrás da tia, que mesmo em mariposa consegue chegar primeiro ás ditas cordas ...
É vida, pura vida que se ganha com umas braçadas ...
Eu ganho.
Maria.
Beijo n´oteudoceolhar.
Etiquetas: Luz
13 Comentários:
Maria Querida
Tenho um nó na garganta que não deixa parar as lágrimas, talvez quem sabe. Se por eu e meu irmão sermos abandonadas pela minha mãe eu apenas com 8 e meu irmão com 11 aninhos. Amo a minha mãe que ainda vive e amo muito meu pai que o desgosto o fez partir tão jovem.
Penso que não existem casas amaldiçoada, mas sim pessoas sem coração para amar, neste momento não consigo comentar.
Tem um feliz dia da Amizade
Um grande beijinho no,teudoceolhar
Minha Flor,
não chores, não quero.
São memórias de Maria, são as minhas. Apenas uma memória, uma partilha.
Não quero lágrimas nesses doces olhos...és uma grande mulher, lutadora, imensamente humana, com uma alma linda...e palavras que tocam.
Tenho um dia feliz da amizade, porque tenho amigos grandes como Tu. Sabes sempre onde me encontrar, agora por favor, nada de lágrimas senão a Maria fica triste.
Beijo n´oteudoceolhar*
Flor,
por último.
Há pessoas que sim, não nascem com a capacidade de AMAR, de conjugar o verbo (num destes dias tb tenho post para isso)...POBRES, TRISTES...é o que são.
Felizes de Nós...Boa?
Por entre lágrimas (de alegria e tristeza), somos humanas sentimos ... Eles q não o conjuguem que NÓS, o faremos em dobro*
Estamos distantes e ao mesmo tempo tão perto..
A amizade
que nos une pode vencer todas as distâncias.
Ela sim é mais forte que o tempo.
No decorrer da nossa existencia se vacilamos
em alguma coisa.
Seus verdadeiros amigos estão ali sempre
a seu lado mesmo se o Mundo conspire
contra você.
Hoje quero deixar um abraço através dessa telinha e dizer
te amo linda amizade por tudo que representa na minha vida.
Um beijo carinhoso,Evanir.
Amigos para Sempre
Senti-me imensamente aflito, como se também eu rodopia-se nas mãos fracas da vida mas que bom que houve um final feliz, parece.
Maria, você é luz do blogue em que deposita aqui magia e saudáveis palavras.
«Uma pena, pelo menos caía de uma vez e ficava a praia com um outro aspecto.» - Não vamos cair, meu anjo. Deixe-mo-nos apenas deambular.
Um beijo *
Evanir,
que a sua saúde esteja bem melhor...mas minhas mãos ainda na mó debaixo, dão tréguas aos poucos.
Minha "telinha", está aqui bem defronte dos seus olhos minha amiga...volte sempre.
Paz no seu coração, força, o Pai soberano olhará por nós...vamos ter fé.
Beijo n´oteudoceolhar *
Paulo,
Pensador, todos um dia já andamos “perdidos” nas “mãos fracas da vida”, já foi há tanto tanto tempo…mas olha a foto, a casinha é aquela rosa que se vê ali bem ao fundo…está mesmo ao abandono, se a deitassem abaixo de vez, ou restaurassem a praia ficava bem mais bonita, a Arrábida é um paraíso, há que mantê-lo.
Eu cair?
Pensador, Maria nem tão pouco é anjo, e acredita, não está caída.
Sim Maria vai deambulando, pelas memórias de ontem e de hoje.
E tu faz o favor…cabeça para cima, nós somos vencedores, no meio dos “outros”.
Beijo n´oteudoceolhar*
Entendi o que quiseste dizer querida, Maria. Realmente parece uma casinha agradável. Para além da vista! Uiui.
É bom saber que a Maria não está caída. Muito bom saber!
Um beijo *
Fiquei impressionado com todos os teus azares, mas o da casca de berbigão entalada na garganta até me tirou a respiração.
Beijo, querida amiga.
Um momento de tamanha aflição é impossivel de se esquecer...há memórias que deveriam ficar fechadas num baú invisivel, para sempre! No entanto, todas as experiencias pelas quais passamos nos ensinam algo! Mais não seja, a sermos mais fortes!
Um beijo, grande.
Nilson,
tal e qual assim ... aflição mesmo.
Tudo passa felizmente é memória do ontem.
obg beijo n´oteudoceolhar
Minha Secreta,
tu entendes-me.
Verdade, deveria ser uma baú invisivel ... Acreditas q começo a ficar cansada de cxs e baús ...Deve ser da idade.
Verdade tudo a vida nos vai ensinando e transformando.
Beijo n´oteudoceolhar
Até estremeci com essa do berbigão.
Eu adoro essa zona, sou completamente apaixonada pelo Portinho da Arrábida, acho aquele cantinho delicioso. Não tivesse eu tantos planos até ao fim do ano, e era miúda para lá voltar em breve.
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