... "Deixe estar minha senhora..."
Para variar um pouco, o meu Eu... óculos escuros, cabeça encostada no assento do barco a olhar o rio.
Enquanto não chega a hora.
Sinto o cabelo que já me vai deslizando braços abaixo, e penso nos anos que tem levado para o sentir assim.
Estou num estado de calmia aparente, ou não fossem as intermináveis horas que ao que parece vão continuar, este fim-de-semana. Mais um sábado, só mais um e depois “fecho para obras”.
Do nada quebra-se o meu silêncio. Alguém que se vem sentar ao meu lado.
- deixe estar minha senhora.
Aquele deixe estar minha senhora, entrou cá dentro de “estalo”.
Onde está a menina e moça que eu disse que nunca iria crescer?
Tão estranho aquele “minha senhora”, ao mesmo tempo que é estranho acaba por “cair” bem.
O barco faz-se ao rio e lá está tudo onde tem estado ao longo destes anos, a diferença, reside em olhar e ver tanta gente á “pesca” (?)
Vidas e mais vidas…
Olho como tantas vezes olho por entre a multidão.
Tantas almas, tantas vidas.
Olhos os mais novos “desenho”, os seus sonhos, desejos e anseios. Amores e desamores “escritos” em rostos perdidos no infinito. Os mais velhos que procuram não olhar para o relógio da vida.
Vidas e mais vidas às “claras”, às “escuras”, tanta fachada, tanto fingimento, bem como tanta vida por entre sorrisos e risos.
E eu observo tudo, por detrás dos meus óculos escuros. Sempre foi assim gosto mais de ver e observar a ser observada ou vista.
Alguém num comentário dizia que eu sou “terra a terra”, verdade que sou. Além de uma “fera” com um quê de “mázinha” sou mesmo terra a terra e por vezes escapa-me a crueldade e maldade dos outros.
Olho o rio a calmia e penso que apesar de tudo prefiro ser assim, ainda que procurando abrir um pouco os olhos, se o consigo? Ás vezes.
Olho o rio e penso “ou ontem, ao final do dia ou hoje”
Ontem parecia que o céu ia desabar e as ondas, juntamente com o vento estavam por demais.
Mas sem chuva ainda consegui ir apanhar vento neste cabelo de menina e moça, terra a terra e “plantei-me”, no meu lado, o de cá a olhar as ondas, que os catamarans ao passarem criavam, para delicia dos meus olhos, vê-las chegar a terra.
Dava um nocturno e tanto.
Deixei-me estar a saborear o vento, e depois um sorriso e um até amanhã.
E no descontrolo do vento tento controlar o cabelo no caminho feito a pé até casa.
Sem dúvida, penso de mim para mim, digam o que disserem, falem, gritem “berrem”, e se tiverem cabeça para pensar se é que o sabem fazer, façam-no …
Porque seja como for eu sou mesmo uma senhora, e o resto são favas contadas.
(28-10-2011)
Maria