Fecho os olhos, sento-me no meu banco.
Fico imóvel, deixando que o Eu fique de igual forma como o cabelo…
Perfeito desalinho.
Fico e deixo-me fica.
Chamas por mim, clamas por mim.
E eu ouço o apelo, aquele que te faço e aquele que desejo, aquele que nunca me concedes.
Fecho os olhos…
Levanto-me desço as escadas que a ti me conduzem.
As rochas, dão-me a sensação que perderam a inclinação, e que se tornam numa passadeira de fácil acesso a Ti.
E de olhos fechados caminho.
A descida é fácil, ou pelo menos parece…
Sinto um rasgo na perna, e de olhos fechados olho, a água tingir-se de um vermelho, paixão.
Sinto uma dor aguda, lancinante…mantenho-me imóvel, sinto o quente do sangue misturar-se com o frio da água.
Aquele frio que se entranha, nas entranhas do meu ser, quando a Ti me dirijo.
Os pés já molhados, a água até aos joelhos, que parecem querer fraquejar…
Mas de olhos continuo a descida, de mim para Ti.
-tinha de ser assim?
-não era assim que querias?
-queria vir a Ti, chegar a Ti e em Ti me perder.
-se querias, chegou a hora.
Embatem as ondas, embate o corpo, as mãos perdem-se mas não perco o equilíbrio…
E mais um golpe, o sabor que quase chega á boca do vermelho que torna a tingir a água.
-porque doi? pensei que era mais fácil.
-se fosse assim tão fácil, valeria a pena? Se fosse fácil se não doesse, já te teria levado há mais tempo.
Não fui eu que quis, foste tu que pediste, e de tanto pedires, hoje concedo-te o desejo, hoje serás mais do que ontem minha.
-tens razão, eu pedi, e pedi mais do que uma vez, leva-me. Eu e Tu, por fim, no fim Nós.
Mais um embate, mais um rasgo que rasga o interior, a dor, na dor.
-ajuda-me, facilita.
-se eu facilita-se era mais fácil não era? Se eu facilita-se um fim seria um fim em glória e em pleno. Era isso que querias não era?
Pensa…se assim fosse que nome teria o fim … Amor? Entrega? Não és tu que me Amas? Não és Tu que te entregas a mim?
Seria fácil, demasiado fácil e tu sabes tão bem quanto eu, que tudo isso é utópico. Por isso doi, por isso magoa, por isso sofres no que vias de tão pleno.
Não o é, nunca foi, nunca será. Eu levo-te como tenho de levar, sem nunca te deixar de amar. Não sou eu o teu Mar?
De olhos fechados me mantenho, na dor que outrora foi, plena de luz.
Por isso doi, por isso magoa, as estranhas entranhas do meu ser.
Ao fundo me transporta, a respiração, mantém-se não sei bem até onde.
De olhos fechados vejo o resgo de luz, de lá no alto se mantém, levando ao escuro, perdendo a clareza.
De olhos fechados, o ar falta-me, a água invade o interior, perco a noção do que é ter a noção, do que é o ar, aquele que respirava, aquele que se esvai…
Não há mais ar, não há mais como respirar…não há mais volta a dar.
-Eu e Tu.
-Tu e Eu, por fim Nós.
-Deste-me a vida e hoje levas-me…
-Fui eu que pedi? Fui eu que vim até mim?
Tu pediste eu, disse-te tantas vezes. Tantas mas tantas, para ires e voltares quando de alimento sentisses falta, quando de mim sentisses falta.
Que fizeste tu? Voltas-te alimentaste-te, e não viveste, fingiste e voltaste sempre em busca de alimento, verdade, mas pediste sempre o mesmo.
“leva-me”. Agora levo-te.
-então leva-me acaba de uma vez comigo.
-não eu não acabo contigo de uma vez. Tu acabaste contigo.
Eu sou apenas o meio para atingires um fim…e agora chega a hora em que queres olhar para trás, e meu Amor é tarde.
Esvai-se, sem mais palavras, o sopro da vida que foi vida… sucumbo.
No fim que sempre desejei, Eu e Tu, por fim nós.
Na alegria, na tristeza, na saúde e na doença…Eu e Tu, por fim nós.
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Do Nada os olhos abrem-se, desperto.
Olho a imensidão...estava a "dormir", sonhei um sonho irreal, um sonho impossível de o ser. Porque eu estou a ver o Mar, porque eu olho e vivo o Mar, e foi ali que ela começou ... A vida...e eu não me posso limitar apenas a olhar, porque o vivo, porque o sinto, porque ele me alimenta, dá-me a vida…
Mas sim um dia Eu, Tu seremos apenas nós.
Maria
Beijo n´oteudoceolhar.
(Maria vai ver o Mar. Mas Maria volta, porque tem de voltar...)